“Tá bão demais!”

                O artigo de hoje foi escrito em Tucumã, Pará, ao retornar de 10 dias na Área Missionária São João Batista (possível futura paróquia), no interior de São Félix do Xingú. São 20 comunidades constituídas, atendidas por nosso amigo pe. Blásio Henz.

                Quem conhece o pe. Blásio sabe de suas qualidades e de sua dedicação pastoral. Ao percorrer com ele 15 comunidades, pude perceber o quanto a presença e o modo dele viver o seu ministério têm ajudado estas pessoas. A presença de um padre nesta região missionária é fundamental.

                As casas são, normalmente, de madeira. Poucas foram pintadas. Não há o costume de grama e flores ao redor das casas, como temos aqui. Em toda a Área Missionária não há nenhum metro de asfalto. Para chegar numa comunidade viajamos 5h30min de camionete. Muitas famílias contavam-me como foi difícil viver anos sem luz. “Padre, durante 7 anos não tomamos água gelada nenhuma vez, e minha mulher chorava querendo desistir e ir embora. Mas resistimos e estamos felizes”. Em muitos lugares a instalação elétrica é improvisada, feita e paga pelos moradores, pois se esperassem do governo ou das concessionárias ainda estariam no escuro. Comprar frutas, legumes e verduras é uma loteria. As distâncias são muitas, as estradas ruins e o frete encarece tudo. Escoar a produção, sobretudo o gado de corte, tem seus riscos, pois as pontes e estradas são perigosas. Faltam professores nas escolas e o acesso à saúde também é muito difícil.

Apesar disso, ao perguntar para as pessoas: “Como está? Como vai a vida por aqui?”, ouvia a seguinte resposta: “Tá bão demais!” Ouvi poucas reclamações. Todos falam do quanto a vida melhorou, de como é bom viver aqui. Os desafios foram e são muitos, mas escutei pouca reclamação. E isso me fez pensar.

                Esse “Tá bão demais” também se refere a como eles veem a vida Pastoral das comunidades, que agora têm uma presença mais regular do padre e sua assistência para formação e organização da comunidade. Antes, havia uma ou duas missas por ano. Hoje, pe. Blásio faz ao menos uma visita por mês a cada comunidade. As refeições comunitárias depois das celebrações são algo muito interessante também.

                Ao voltar a Tupandi quero fazer um propósito: reclamar menos da vida. Perceber que, se é verdade que temos que trabalhar muito para ter o que temos, também é verdade que temos boas estradas, acesso à educação, transporte e saúde de qualidade e gratuita (aqui precisam pagar R$ 7.000,00 reais para uma remoção de avião particular, se for urgente, pois pela estrada a pessoa não resiste). Temos conforto nas casas. Temos tudo perto de nós. Ninguém em nossa região precisa viajar mais que 10 ou 15 minutos para chegar a uma Missa em uma comunidade próxima. E tantas outras coisas que temos!

Caso queiras compartilhar do meu propósito, vamos nos alegrar pelo que temos e lembrar que o melhor da vida está nas coisas mais simples. E aí poderemos dizer de boca cheia: “Tá bom demais!”

 

Pe. Eduardo Haas